às vezes é dificil controlarmos o preconceito quanto a certos autores de best seller, mas vale à pena olhar e ouvir
http://www.ted.com/talks/lang/por_br/elizabeth_gilbert_on_genius.html
Ina Gracindo
Sou tradutora consecutiva e literária e escrevi o romance Quatro Amores e Dois Finais em 2005 e artigos para os sites Estrela Guia, Feminice, Bem Leve e Bolsa de Mulher.
sexta-feira, abril 22, 2011
Os Trinta e Nove Degraus
Meio sem destino numa 5a feira de feriado passeio o dedo pela lista de filmes do jornal, mas nada interessa de verdade, passemos ao teatro então. Escola de Escândalos anda na mira, mas até agora nada. Talvez Maria do Caritó, quem sabe os Trinta e Nove Degraus de Alfred Hitchcock, um sucesso da Broadway estrelado aqui por Dan Stulbach. Decidido então, vamos aos degraus. Definitivamente o Dan Stulbach é O CARA. Bom de telinha, bom de telão, bom de palco veste suas falas e cenas como uma segunda pele às vezes de carneiro, às vezes de leão, tá muito bom. É um ator tão genial e completo que se dá ao luxo de ‘fazer escada’ com quem contracena, claro é que ninguém ali é novato e tudo parece uma farra em cena, mas é trabalho profissional dos bons. Os quatro atores no palco se desdobram em personagens principais e secundários e dialogam consigo mesmos e com terceiros, lembrando um pouco o Monty Python. Envolvem a platéia que no começo um pouco sem graça, muito pouco, aliás, vai tomando intimidades e de repente ELE desce do palco e ri e fala com todos, lá tão presente entre nós que parece até real. Danton Mello é bom de palco, a televisão talvez seja um espaço muito apertado para conter seu gestual. Fabiana Gugli, com licença da ignorância eu não sabia quem era, e, no entanto ela estava lá no Cheiro do Ralo e maravilhosamente presente, completamente perfeita no seu papel, mas aqui tem tantas faces e interpreta mais de uma que não se pode reconhecer, mas uma vez vista, jamais esquecida!
O Henrique Stroeter pra quem acompanhou alguma coisa dos parlapatões dispensa apresentação e o mais surpreendente foi chegar à bilheteria e descobrir que na quinta-feira pagava-se a metade. Teatro visto e aplaudido, barriga vazia a procura de um espaço com menos fritura, a Conde de Bernadote consegue cheirar até um quarteirão além, frito, frito, até pensamento. Caminhamos com tranqüilidade, embora aqui e ali a mídia nos alerte contra os perigos da cidade, a lua míngua nada perigosa guiando nossos passos e depois de uma conferida básica, entre lugares muito cheios ou muito jovens a decisão é pelo Juice & Co., perto de casa não compromete; sucos gostosos misturados ou não a álcool, comida honesta, sobremesa legal e no passado da hora não estava cheio e nem tinha tanta música que não se pudesse conversar. A noite ia se despedindo e com ela o aniversário da Nani que fomos comemorar e hoje antes de fecharmos o dia Espaço Moreira Salles que ninguém é de ferro e beleza nunca é demais! Bom feriado.
O Henrique Stroeter pra quem acompanhou alguma coisa dos parlapatões dispensa apresentação e o mais surpreendente foi chegar à bilheteria e descobrir que na quinta-feira pagava-se a metade. Teatro visto e aplaudido, barriga vazia a procura de um espaço com menos fritura, a Conde de Bernadote consegue cheirar até um quarteirão além, frito, frito, até pensamento. Caminhamos com tranqüilidade, embora aqui e ali a mídia nos alerte contra os perigos da cidade, a lua míngua nada perigosa guiando nossos passos e depois de uma conferida básica, entre lugares muito cheios ou muito jovens a decisão é pelo Juice & Co., perto de casa não compromete; sucos gostosos misturados ou não a álcool, comida honesta, sobremesa legal e no passado da hora não estava cheio e nem tinha tanta música que não se pudesse conversar. A noite ia se despedindo e com ela o aniversário da Nani que fomos comemorar e hoje antes de fecharmos o dia Espaço Moreira Salles que ninguém é de ferro e beleza nunca é demais! Bom feriado.
domingo, abril 17, 2011
Alimentando corpo e alma
O sábado foi regado a vinho chileno Casa Silva carmenére e petit verdot , ambos acompanhados de sanduíches muito saborosos e bem harmonizados, pena que a sobremesa não foi essa cocada toda porque é preciso um doce bem bacana pra fechar todo pão e vinho saboroso. Pena também que o lugar não confortou o espírito como talvez esperássemos. Tudo bem correto, mas carecendo de alma justo quando entre enlevadas e desconsoladas saímos eu e minhas amigas Nani e Silvana do filme Homens e Deuses que eu talvez não possa recomendar a todos, não porque eu não tenha gostado, mas pelos comentários que fui entreouvindo entre um bocejo e outro, entre um muxoxo e uma intervenção logo que um silêncio se insinuava. A Bia, Junqueira, atriz amiga, fala de silêncio nas suas aulas, de gestos tênues de olhares furtivos apenas, mas que valem por diálogos inteiros, e lá estavam todos esses sinais e uns quantos outros afagando a contrição de alguns de nós enquanto outros devaneavam em francês como se ali fossem os únicos que soubessem ler e falar ou como quiçá nós pequeninos mortais não pudéssemos escutar... O filme rodou muitas vezes mais em nosso pensamento um pouco embriagado de vinho e contentamento e depois, depois o descanso a que todo guerreiro tem direito e que é sempre necessário.
Isso tudo na véspera de domingo que sem lenço e nem documento terminou por nos levar para o centro da cidade dispostas que estávamos a desbravar uma Rua do Lavradio cheia de tesouros incontáveis, mas que para nossa surpresa apenas hiberna depois de um sábado atribulado. Ainda chegamos a tempo de ver uma garrafa de vidro se espatifando depois de um lançamento espetacular feito por um travesti na direção de quem o chacoteava. Mas se os ventos ali nos levaram, pra que discutir? Seguimos viagem.
Carro estacionado perto do Paço Imperial e a intenção era ficar, mas o Arco dos Teles tem uma sedução impressionante mesmo quando quase tudo está fechado, que não se pode e nem se quer resistir e fomos andando sobre pedras dantes pisadas por marujos e comandantes, mercadores e barões e só paramos para admirar o Cais do Oriente que é um restaurante lindo e quase à beira do cais, mas não completamente. Entramos por um bocado prometendo voltar para a sobremesa e já que ali estávamos porque não entrar no centro cultural dos correios por uns instantes? Fernando Pessoa e os heterônimos no segundo andar e no terceiro os poetas brasileiros e seus ilustradores, a visita não foi demorada, mas com a alma lavada fomos para a Casa França Brasil comer no bistrô minimalista, comme Il faut, espaguete de quinoa refogado com abobrinha, berinjela e cebolas, tudo finamente fatiado e servido com lascas de parmesão e escondidinho de camarão. A sobremesa foi uma orgia de pequenos doces mais interessantes do que propriamente gostosos, e para fechar o circuito uma browseada final no CCBB, o Sivuca ia aprontar lá, mas não deu pra ficar já ia ficando bem tarde e a lua cheia em libra já ocupava parte do céu da cidade avisando que o domingo estava por terminar...
Isso tudo na véspera de domingo que sem lenço e nem documento terminou por nos levar para o centro da cidade dispostas que estávamos a desbravar uma Rua do Lavradio cheia de tesouros incontáveis, mas que para nossa surpresa apenas hiberna depois de um sábado atribulado. Ainda chegamos a tempo de ver uma garrafa de vidro se espatifando depois de um lançamento espetacular feito por um travesti na direção de quem o chacoteava. Mas se os ventos ali nos levaram, pra que discutir? Seguimos viagem.
Carro estacionado perto do Paço Imperial e a intenção era ficar, mas o Arco dos Teles tem uma sedução impressionante mesmo quando quase tudo está fechado, que não se pode e nem se quer resistir e fomos andando sobre pedras dantes pisadas por marujos e comandantes, mercadores e barões e só paramos para admirar o Cais do Oriente que é um restaurante lindo e quase à beira do cais, mas não completamente. Entramos por um bocado prometendo voltar para a sobremesa e já que ali estávamos porque não entrar no centro cultural dos correios por uns instantes? Fernando Pessoa e os heterônimos no segundo andar e no terceiro os poetas brasileiros e seus ilustradores, a visita não foi demorada, mas com a alma lavada fomos para a Casa França Brasil comer no bistrô minimalista, comme Il faut, espaguete de quinoa refogado com abobrinha, berinjela e cebolas, tudo finamente fatiado e servido com lascas de parmesão e escondidinho de camarão. A sobremesa foi uma orgia de pequenos doces mais interessantes do que propriamente gostosos, e para fechar o circuito uma browseada final no CCBB, o Sivuca ia aprontar lá, mas não deu pra ficar já ia ficando bem tarde e a lua cheia em libra já ocupava parte do céu da cidade avisando que o domingo estava por terminar...
domingo, abril 03, 2011
O ar que se respira
É impressionante pensar que o elemento fundamental que nos mantém vivos é a coisa mais simples e disponível desse mundo, o ar, mas assim mesmo não sabemos respirar. Várias terapias corporais e técnicas de meditação nos ensinam e não devia nem ser preciso, que respirar é vital e assim mesmo, sabendo disso, nos esquecemos como se faz.
Há alguns anos voltei a sofrer de asma, fui asmática quando criança assim como meus primos e irmãos, a condição durou alguns anos, se foi e me esqueci como era.
Um dia de repente, há mais ou menos 3 anos comecei a sentir uma agonia inexplicável e no começo não entendi exatamente a condição do meu desconforto até que de repente percebi que era falta de ar; mas tinha vindo de onde essa visita inesperada depois de tantos anos? Pneumologista, alergista, endócrino, ginecologista e pesquisas, muitas pesquisas. Algumas dão conta que no remexer hormonal isso pode acontecer, pode vir para ficar ou ser uma condição de curta temporada, outros evocam alergias como potenciais responsáveis, mas as vezes a gente subestima o indefectível emocional que com certeza ataca quem é ou “já foi”asmático, assim entre aspas mesmo porque aparentemente não existem ex e nem curados, mas “condições favoráveis temporárias” que aliviam asmáticos da falta de ar.
Com a respiração cada vez mais curta e com viagens programadas para longo fôlego resolvi procurar uma terapeuta pulmonar, quando chegou acessou todas as faces da minha falta de ar e passamos aos exercícios práticos.
Não respirar de forma correta pode acarretar e agravar muitas situações físicas que nem pensamos possam ter ligação com o respirar, mas afinal não é o ar que nos mantém vivos? Então tem a ver. Não respirar direito pode ter como causa e também causar estresse, medo, tristeza, ansiedade e claro, doenças bastante mais graves.
Não oxigenar o corpo de maneira correta nos impossibilita até de pensar, e foi assim que hoje aos cuidados de mãos capacitadas, oxigenando o cérebro depois de tanto tempo hipóxico que me dei conta de que o ar me faltou há uns três anos atrás quando me senti sufocada por uma situação inusitada com a qual me deparei sem saber como lidar, aí a respiração ficou presa e sem espaço para sair ou entrar, ficou curta e sem fôlego como à espreita, não saía do peito e não circulava ficava no susto, na iminência da necessidade de uma possível ação rápida.
Talvez não seja a coisa mais fácil do mundo respeitar o ar que os outros respiram assim como não é fácil reagirmos quando nos falta o ar, principalmente se a falta tem remédio paliativo ou se é de alguma forma controlável, mas a verdade é uma só: quem precisa que o ar falte até não poder mais respirar? Eu to feliz como pinto no lixo reaprendendo a respirar e recomendo nesses tempos bicudos, tensos e poluídos que se respire a plenos pulmões saboreando absolutamente tudo o que a vida nos traz, porque até as coisas que nos parecem as mais triviais como o ato de respirar tem atualmente um valor incomensurável.
Há alguns anos voltei a sofrer de asma, fui asmática quando criança assim como meus primos e irmãos, a condição durou alguns anos, se foi e me esqueci como era.
Um dia de repente, há mais ou menos 3 anos comecei a sentir uma agonia inexplicável e no começo não entendi exatamente a condição do meu desconforto até que de repente percebi que era falta de ar; mas tinha vindo de onde essa visita inesperada depois de tantos anos? Pneumologista, alergista, endócrino, ginecologista e pesquisas, muitas pesquisas. Algumas dão conta que no remexer hormonal isso pode acontecer, pode vir para ficar ou ser uma condição de curta temporada, outros evocam alergias como potenciais responsáveis, mas as vezes a gente subestima o indefectível emocional que com certeza ataca quem é ou “já foi”asmático, assim entre aspas mesmo porque aparentemente não existem ex e nem curados, mas “condições favoráveis temporárias” que aliviam asmáticos da falta de ar.
Com a respiração cada vez mais curta e com viagens programadas para longo fôlego resolvi procurar uma terapeuta pulmonar, quando chegou acessou todas as faces da minha falta de ar e passamos aos exercícios práticos.
Não respirar de forma correta pode acarretar e agravar muitas situações físicas que nem pensamos possam ter ligação com o respirar, mas afinal não é o ar que nos mantém vivos? Então tem a ver. Não respirar direito pode ter como causa e também causar estresse, medo, tristeza, ansiedade e claro, doenças bastante mais graves.
Não oxigenar o corpo de maneira correta nos impossibilita até de pensar, e foi assim que hoje aos cuidados de mãos capacitadas, oxigenando o cérebro depois de tanto tempo hipóxico que me dei conta de que o ar me faltou há uns três anos atrás quando me senti sufocada por uma situação inusitada com a qual me deparei sem saber como lidar, aí a respiração ficou presa e sem espaço para sair ou entrar, ficou curta e sem fôlego como à espreita, não saía do peito e não circulava ficava no susto, na iminência da necessidade de uma possível ação rápida.
Talvez não seja a coisa mais fácil do mundo respeitar o ar que os outros respiram assim como não é fácil reagirmos quando nos falta o ar, principalmente se a falta tem remédio paliativo ou se é de alguma forma controlável, mas a verdade é uma só: quem precisa que o ar falte até não poder mais respirar? Eu to feliz como pinto no lixo reaprendendo a respirar e recomendo nesses tempos bicudos, tensos e poluídos que se respire a plenos pulmões saboreando absolutamente tudo o que a vida nos traz, porque até as coisas que nos parecem as mais triviais como o ato de respirar tem atualmente um valor incomensurável.
terça-feira, março 15, 2011
meu maestro soberano foi Antônio Brasileiro
Quando minha mãe estava grávida de 8 meses mais ou menos, a família veio em caravana para o sudeste. Nordestinos, é claro! Minha mãe de primeira geração, filha de gringos fugidos da Rússia entre a 1ª e a 2ª guerra e meu pai pelo que eu saiba, alagoano de muitas gerações, minha prima Sonia, genealogista, pode atestar.
Pois bem, como minha mãe eu era a primeira a sair da calçada de meus ancestrais, eu apenas atravessando algumas ruas e ela vinda de uma distância impressionante; meu avô saiu de Odessa para ir fazer pouso em Garanhuns, pasmem. Mas se o dele foi considerado um ato hercúleo, já o meu sem nenhuma culpa direta era a torto e a direito motivo de deboche toda vez que em casa acontecia uma disputa. Meus irmãos e primos, plenos e orgulhosos de sua ancestralidade e cientes da minha inveja, transbordavam meus dias de lágrimas amargas quando me acusavam de traidora, nascida em terras estrangeiras, e claro, todos mais ou menos pequenos encerrados num mundo de comunicação ainda básica não tínhamos, eu pelo menos, idéia de que das terras de Minas Gerais brotavam tesouros como o Carlos e Milton e Vagner e Joaquim José...E eu me envergonhando de ser mineira..., mas se carioca não era morando no Rio de janeiro, então mineira também não seria e quando eles não estavam por perto eu enchia o peito e soltava um: alagoana!
O duro foi na hora de enfrentar o primeiro documento oficial e ter lá estampado o original de: Minas, que não me deixava mentir. Eu de boba não sabia e nem queria saber que as Minas Gerais foram palco de entreveros políticos, uns com sucesso, outros não, traições, casas grandes e senzalas que enriqueceram as burras de Portugal além de ser enredo de muita escola de samba. Terra de Guimarães, o Rosa, e do José Rubens, o Fonseca, dos cronistas Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Rubens Braga e da delicada Adélia Prado. Podia passar a manhã inteira me orgulhando de ser mineira, mas mineira vem só escrito lá na carteira, enquanto vou parafraseando Chico Buarque pelas vias da miscelânea que somos nós os brasileiros. Como os irmãos e primos eu desde pequena cultivei orgulho pelo alagoano que foi crescendo literalmente desde o berço quando saídos de Belo Horizonte e fomos acolhidos pelos tios em Copacabana, o sotaque das Alagoas foi música para meus ouvidos desde idade muito pequena, o que me fez de repente assumir plenamente minha face oculta mineira? Uma gente que venho conhecendo aos poucos e que parece que fizeram parte da minha vida inteira! Onde é que fabricam gente como eles? Acho que a areia ferrosa mineira faz gente diferente, com o peito aberto e sem medo de exibir um sorriso quase tatuado no rosto, pru modi de não chatear os outros, são de uma generosidade infinita, depositada à mineira, não é que trabalham em quase silêncio?
Então é isso, nasci em BH, mas o meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano e o meu maestro soberano foi Antônio Brasileiro.
Pois bem, como minha mãe eu era a primeira a sair da calçada de meus ancestrais, eu apenas atravessando algumas ruas e ela vinda de uma distância impressionante; meu avô saiu de Odessa para ir fazer pouso em Garanhuns, pasmem. Mas se o dele foi considerado um ato hercúleo, já o meu sem nenhuma culpa direta era a torto e a direito motivo de deboche toda vez que em casa acontecia uma disputa. Meus irmãos e primos, plenos e orgulhosos de sua ancestralidade e cientes da minha inveja, transbordavam meus dias de lágrimas amargas quando me acusavam de traidora, nascida em terras estrangeiras, e claro, todos mais ou menos pequenos encerrados num mundo de comunicação ainda básica não tínhamos, eu pelo menos, idéia de que das terras de Minas Gerais brotavam tesouros como o Carlos e Milton e Vagner e Joaquim José...E eu me envergonhando de ser mineira..., mas se carioca não era morando no Rio de janeiro, então mineira também não seria e quando eles não estavam por perto eu enchia o peito e soltava um: alagoana!
O duro foi na hora de enfrentar o primeiro documento oficial e ter lá estampado o original de: Minas, que não me deixava mentir. Eu de boba não sabia e nem queria saber que as Minas Gerais foram palco de entreveros políticos, uns com sucesso, outros não, traições, casas grandes e senzalas que enriqueceram as burras de Portugal além de ser enredo de muita escola de samba. Terra de Guimarães, o Rosa, e do José Rubens, o Fonseca, dos cronistas Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Rubens Braga e da delicada Adélia Prado. Podia passar a manhã inteira me orgulhando de ser mineira, mas mineira vem só escrito lá na carteira, enquanto vou parafraseando Chico Buarque pelas vias da miscelânea que somos nós os brasileiros. Como os irmãos e primos eu desde pequena cultivei orgulho pelo alagoano que foi crescendo literalmente desde o berço quando saídos de Belo Horizonte e fomos acolhidos pelos tios em Copacabana, o sotaque das Alagoas foi música para meus ouvidos desde idade muito pequena, o que me fez de repente assumir plenamente minha face oculta mineira? Uma gente que venho conhecendo aos poucos e que parece que fizeram parte da minha vida inteira! Onde é que fabricam gente como eles? Acho que a areia ferrosa mineira faz gente diferente, com o peito aberto e sem medo de exibir um sorriso quase tatuado no rosto, pru modi de não chatear os outros, são de uma generosidade infinita, depositada à mineira, não é que trabalham em quase silêncio?
Então é isso, nasci em BH, mas o meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano e o meu maestro soberano foi Antônio Brasileiro.
terça-feira, fevereiro 08, 2011
PICASSO
Estou com a alma lavada e enxaguada como diria Odorico Paraguaçu, com a crônica do Arnaldo Jabor na página dez do segundo caderno do Globo de hoje!
Quando li o titulo resolvi vasculhar porque na verdade eu não gosto muito do que você, Jabor, (perdão pela intimidade) escreve, do seu estilo sempre tão reclamão e mal humorado, ah me desculpe a pretensão e o tanto de água benta, mas talvez seja o tom tonitruante ou a escolha como símbolo sexual e, sinceramente, depois de tantos anos de trabalho, queimando as pestanas nas madrugadas, parece que foi tudo em vão.
Ficam na internet repassando aquela bobajada melosa que você já disse centenas de vezes que não escreveu, mas ninguém dá bola, querem que tenha sido você, querem te vestir com outra cor ou outro humor, mas acho que você tá fora, não tem nada a ver com o humor dessa gente, mas de repente cai nas minhas mãos que procuravam apenas o horário do cinema no segundo caderno o título bombástico: PICASSO NOS DÁ VONTADE DE VIVER! Ah, me deu realmente vontade de viver, de ler a crônica, e percebi de repente que tudo o que até aqui me distanciou de você se apagou e de repente pertencíamos a mesma tribo desde pequenos, você a mais tempo que eu, e tomara que na semana que vem eu continue achando isso porque me deu um certo alívio, desoprimiu meu peito e desopilou o fígado daquele amargor que as vezes têm as tuas palavras .
O Chico, meu filho do meio quando era bem pequeno foi comigo a Paris, quando o Centre Pompidour ainda era jovem e meu filho também, e lá, fomos brindados com uma retrospectiva completa ou quase, das obras desse Deus quase primata, quase Hanumam, que não podia ficar parado, que tinha todas as fomes do mundo e as saciava, mexia as mãos apenas, e colocava no lugar o que achávamos que já estava arrumado e no final da exposição, a do Centre Pompidour, o Chico perguntou:
-Mãe, aquelas pinturas lá no começo era a mãe dele que ajudava?
Picasso transformou toda a nossa lógica, todas as nossas incógnitas num risco apenas, ou em vários, mas em nada do que fez resta qualquer dúvida. O rabisco é muito claro.
Parabéns para nós todos que tivemos acesso a sua crônica de hoje! Volte sempre Arnaldo Jabor, com o peito aberto crivado de palavras que nos dêem vontade de viver. Obrigada!
Quando li o titulo resolvi vasculhar porque na verdade eu não gosto muito do que você, Jabor, (perdão pela intimidade) escreve, do seu estilo sempre tão reclamão e mal humorado, ah me desculpe a pretensão e o tanto de água benta, mas talvez seja o tom tonitruante ou a escolha como símbolo sexual e, sinceramente, depois de tantos anos de trabalho, queimando as pestanas nas madrugadas, parece que foi tudo em vão.
Ficam na internet repassando aquela bobajada melosa que você já disse centenas de vezes que não escreveu, mas ninguém dá bola, querem que tenha sido você, querem te vestir com outra cor ou outro humor, mas acho que você tá fora, não tem nada a ver com o humor dessa gente, mas de repente cai nas minhas mãos que procuravam apenas o horário do cinema no segundo caderno o título bombástico: PICASSO NOS DÁ VONTADE DE VIVER! Ah, me deu realmente vontade de viver, de ler a crônica, e percebi de repente que tudo o que até aqui me distanciou de você se apagou e de repente pertencíamos a mesma tribo desde pequenos, você a mais tempo que eu, e tomara que na semana que vem eu continue achando isso porque me deu um certo alívio, desoprimiu meu peito e desopilou o fígado daquele amargor que as vezes têm as tuas palavras .
O Chico, meu filho do meio quando era bem pequeno foi comigo a Paris, quando o Centre Pompidour ainda era jovem e meu filho também, e lá, fomos brindados com uma retrospectiva completa ou quase, das obras desse Deus quase primata, quase Hanumam, que não podia ficar parado, que tinha todas as fomes do mundo e as saciava, mexia as mãos apenas, e colocava no lugar o que achávamos que já estava arrumado e no final da exposição, a do Centre Pompidour, o Chico perguntou:
-Mãe, aquelas pinturas lá no começo era a mãe dele que ajudava?
Picasso transformou toda a nossa lógica, todas as nossas incógnitas num risco apenas, ou em vários, mas em nada do que fez resta qualquer dúvida. O rabisco é muito claro.
Parabéns para nós todos que tivemos acesso a sua crônica de hoje! Volte sempre Arnaldo Jabor, com o peito aberto crivado de palavras que nos dêem vontade de viver. Obrigada!
quarta-feira, novembro 17, 2010
Todos os homens são mentirosos
Não é o que o título é super sugestivo e nove entre dez mulheres vai concordar?
Muitas mulheres afirmam, com muita experiência no assunto, que pelo menos 3/3 dos homens que passaram por sua vida eram antes de tudo mentirosos profissionais ou semi.
É verdade que olhando para muitos é possível perceber a impressão digital de uma mãe que mimou mais do que o necessário ou abandonou mais do que o recomendável, enfim, criou um inseguro de carteirinha que se alimenta de suas próprias estorinhas “enganando” muitas vezes mocinhas ou nem tanto que por ingenuidade ou expectativa de um final feliz ainda acreditam que beijando um sapo vão transformá-lo em príncipe.
Cinismos à parte, é impressionante como em pleno século XXI ainda seja possível encontrar fãs dos dois lados desse modelo tão antigo e fora de moda de se relacionar, pero que los hay, los hay...
Mas, por outro lado, talvez as mocinhas inocentes também nem sejam tão ingênuas assim e como formigas incansáveis em seu oficio procurem aquilo que a natureza ou seus pais idealizaram para elas; um bom marido, muitos filhos para coroar sua relação e para fechar o pacote “na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe”, com todo o respeito parece uma condenação sem volta...
Tudo bem que para efetivar a conquista os pavões abram um leque de opções coloridas para encantar uma possível consorte, mas chega uma hora em que o leque precisa baixar, e cá entre nós, só mesmo o James Bond não se descabela com a pequenês do cotidiano. Se por um lado a relação está uma droga, por outro, lá fora, o mar está cheio de peixes para pescar e como o ditado diz: mais vale um pássaro na mão do que dois voando, e como não fala nada de peixes, à pescaria então.
Dito tudo isso, a verdade é que o título da crônica tem pouco a ver com esse assunto, na verdade o título é do livro de Alberto Manguel que faz um lançamento hoje à noite na Travessa do Leblon. A resenha é a que se segue.
O ponto de partida deste romance é a história secreta de Alejandro Bevilacqua, misterioso autor de um único livro, que se matou no exílio em Madri. O escritor desperta a curiosidade de um jornalista francês, que decide escrever um livro sobre ele. As fontes são quatro pessoas que conviveram com Bevilacqua e prometem revelar segredos importantes.
O primeiro narrador tem o nome do próprio romancista: Alberto Manguel, uma espécie de alter ego homônimo. Em seguida, quem fala é Andrea, a última companheira de Bevilacqua; o jornalista recebe também uma carta de Chancho, ex-companheiro de prisão do escritor na Argentina. Por fim, a narrativa fragmentada e aparentemente ébria de outro exilado em Madri, Tito Gorostiza, irá trazer à tona graves segredos e levantar suspeitas acerca da morte de Bevilacqua.
O perfil do escritor, entretanto, permanece incompleto e obscuro. Resta então uma última surpresa: enquanto o jornalista constata a impossibilidade de montar o quebra-cabeça das lembranças alheias, confundido entre equívocos e mentiras, Alberto Manguel demonstra com maestria a possibilidade de um romance dar vida nova ao passado - uma vida verdadeira, apesar de ficcional.
( Companhia das Letras- http://www.companhiadasletras.com.br )
Muitas mulheres afirmam, com muita experiência no assunto, que pelo menos 3/3 dos homens que passaram por sua vida eram antes de tudo mentirosos profissionais ou semi.
É verdade que olhando para muitos é possível perceber a impressão digital de uma mãe que mimou mais do que o necessário ou abandonou mais do que o recomendável, enfim, criou um inseguro de carteirinha que se alimenta de suas próprias estorinhas “enganando” muitas vezes mocinhas ou nem tanto que por ingenuidade ou expectativa de um final feliz ainda acreditam que beijando um sapo vão transformá-lo em príncipe.
Cinismos à parte, é impressionante como em pleno século XXI ainda seja possível encontrar fãs dos dois lados desse modelo tão antigo e fora de moda de se relacionar, pero que los hay, los hay...
Mas, por outro lado, talvez as mocinhas inocentes também nem sejam tão ingênuas assim e como formigas incansáveis em seu oficio procurem aquilo que a natureza ou seus pais idealizaram para elas; um bom marido, muitos filhos para coroar sua relação e para fechar o pacote “na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe”, com todo o respeito parece uma condenação sem volta...
Tudo bem que para efetivar a conquista os pavões abram um leque de opções coloridas para encantar uma possível consorte, mas chega uma hora em que o leque precisa baixar, e cá entre nós, só mesmo o James Bond não se descabela com a pequenês do cotidiano. Se por um lado a relação está uma droga, por outro, lá fora, o mar está cheio de peixes para pescar e como o ditado diz: mais vale um pássaro na mão do que dois voando, e como não fala nada de peixes, à pescaria então.
Dito tudo isso, a verdade é que o título da crônica tem pouco a ver com esse assunto, na verdade o título é do livro de Alberto Manguel que faz um lançamento hoje à noite na Travessa do Leblon. A resenha é a que se segue.
O ponto de partida deste romance é a história secreta de Alejandro Bevilacqua, misterioso autor de um único livro, que se matou no exílio em Madri. O escritor desperta a curiosidade de um jornalista francês, que decide escrever um livro sobre ele. As fontes são quatro pessoas que conviveram com Bevilacqua e prometem revelar segredos importantes.
O primeiro narrador tem o nome do próprio romancista: Alberto Manguel, uma espécie de alter ego homônimo. Em seguida, quem fala é Andrea, a última companheira de Bevilacqua; o jornalista recebe também uma carta de Chancho, ex-companheiro de prisão do escritor na Argentina. Por fim, a narrativa fragmentada e aparentemente ébria de outro exilado em Madri, Tito Gorostiza, irá trazer à tona graves segredos e levantar suspeitas acerca da morte de Bevilacqua.
O perfil do escritor, entretanto, permanece incompleto e obscuro. Resta então uma última surpresa: enquanto o jornalista constata a impossibilidade de montar o quebra-cabeça das lembranças alheias, confundido entre equívocos e mentiras, Alberto Manguel demonstra com maestria a possibilidade de um romance dar vida nova ao passado - uma vida verdadeira, apesar de ficcional.
( Companhia das Letras- http://www.companhiadasletras.com.br )
sexta-feira, novembro 12, 2010
De médico, chef e louco, todos temos um pouco...
Acordei com a sensação de que alguém dentro de mim pedia socorro, o pedido era ainda um pouco fraco, mas audível. Esse alguém, pasmem, foi encarcerado pelo super-homem em pessoa! Um doido é claro, travestido de roupa azul com capa esvoaçante e músculos poderosos, embora possa estar vestido de qualquer outra coisa a qualquer hora, trata-se na verdade de um “Maria-vai-com-as- outras”.
Inferi hoje que o ego não passa de uma personalidade alterada do mim, um caso de dupla personalidade espaçosa, um preview das gêmeas Ruth e Raquel da novela Mulheres de areia, que como todo doido tem que ser tratado com cautela, sem contrariar, todo cuidado é pouco.
Então pela primeira vez compreendi perfeitamente bem para o que serve a meditação, compreendi o que significa o termo “mente fabricada”.
É possível brincar de bom ou mau moço para efeito externo por um tempo incrível, às vezes por uma vida inteira, mas cá entre nós quem é que realmente está interessado nisso a não ser o super-homem? E enquanto damos asas a ele, mais ele vai nos alimentando com criptonita e quanto mais alto ele voa mais a nossa capa fica furada e o nosso vôo limitado.
Na meditação a gente primeiro acalma a avalanche de pensamentos e vai deixando o batimento cardíaco diminuir, até ficar quase com frio. Tira o foco de tudo que não está ali naquele momento, observa quieto, como quem vê um filme de suspense onde cada cena é crucial para o entendimento do enredo total. Olha com certo distanciamento pra compreender como funciona, o envolvimento atrapalha. Se envolveu? Volte uma casa no tabuleiro para observar o enredo com distanciamento, preste atenção em como respira.
Se esqueceu da respiração? Cuidado pra não ficar sem ar.
Teoricamente deveríamos ser os nossos melhores terapeutas uma vez que não há quem nos conheça melhor do que nós mesmos, mas o que nos impede? O envolvimento, a falta de distanciamento, a danada da criptonita, a paixão como síntese de aversão e apego.
Não conseguimos observar nada sem envolvimento apaixonado, não conseguimos deixar os modelos pré-consagrados em detrimento de uma visão menos apaixonada e habituada a padrões do isso é assim e aquilo é assado, porque eu já vi esse filme antes e sei como vai terminar, sabe nada. Na verdade podemos repetir a fita um sem número de vezes, mas nossos olhos já não serão os mesmos na segunda ou na centésima audição, apenas nos sentimos mais seguros quando achamos que se trata de uma repetição, uma coisa já conhecida e que, portanto, tem um padrão a ser seguido para dar certo ou errado e se por acaso a resposta não se repete é fácil culpar alguém ou a sorte, e como de chef todos temos um pouco vou agora pro outro blog .
http://chefcordonvert.blogspot.com
Inferi hoje que o ego não passa de uma personalidade alterada do mim, um caso de dupla personalidade espaçosa, um preview das gêmeas Ruth e Raquel da novela Mulheres de areia, que como todo doido tem que ser tratado com cautela, sem contrariar, todo cuidado é pouco.
Então pela primeira vez compreendi perfeitamente bem para o que serve a meditação, compreendi o que significa o termo “mente fabricada”.
É possível brincar de bom ou mau moço para efeito externo por um tempo incrível, às vezes por uma vida inteira, mas cá entre nós quem é que realmente está interessado nisso a não ser o super-homem? E enquanto damos asas a ele, mais ele vai nos alimentando com criptonita e quanto mais alto ele voa mais a nossa capa fica furada e o nosso vôo limitado.
Na meditação a gente primeiro acalma a avalanche de pensamentos e vai deixando o batimento cardíaco diminuir, até ficar quase com frio. Tira o foco de tudo que não está ali naquele momento, observa quieto, como quem vê um filme de suspense onde cada cena é crucial para o entendimento do enredo total. Olha com certo distanciamento pra compreender como funciona, o envolvimento atrapalha. Se envolveu? Volte uma casa no tabuleiro para observar o enredo com distanciamento, preste atenção em como respira.
Se esqueceu da respiração? Cuidado pra não ficar sem ar.
Teoricamente deveríamos ser os nossos melhores terapeutas uma vez que não há quem nos conheça melhor do que nós mesmos, mas o que nos impede? O envolvimento, a falta de distanciamento, a danada da criptonita, a paixão como síntese de aversão e apego.
Não conseguimos observar nada sem envolvimento apaixonado, não conseguimos deixar os modelos pré-consagrados em detrimento de uma visão menos apaixonada e habituada a padrões do isso é assim e aquilo é assado, porque eu já vi esse filme antes e sei como vai terminar, sabe nada. Na verdade podemos repetir a fita um sem número de vezes, mas nossos olhos já não serão os mesmos na segunda ou na centésima audição, apenas nos sentimos mais seguros quando achamos que se trata de uma repetição, uma coisa já conhecida e que, portanto, tem um padrão a ser seguido para dar certo ou errado e se por acaso a resposta não se repete é fácil culpar alguém ou a sorte, e como de chef todos temos um pouco vou agora pro outro blog .
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